terça-feira, 31 de agosto de 2010

Discurso de padre Isaque na posse de dom Valdeci

     Na missa de posse de dom Valdeci, padre Isaque e padre Jovanês deram as boas vindas a dom Valdeci. Padre Isaque preparou um discurso minuncioso em que mostra os desafios da diocese, declara o apoio do clero ao novo bispo e demonstra confiança no novo ciclo que se inicia. Vale a pena conferir:
Pe. Isaque Marques

"DISCURSO DE POSSE DE DOM VALDECIR EM BREJO AOS 28/08/2010



Caros: Dom Valdecir, Dom Valter, Dom Xavier, Dom Reinaldo, Dom Belizário, irmãos no Sacerdócio, povo de Deus aqui reunido!

Neste dia 28 de agosto de 2010, a Igreja Católica escreve mais um capítulo de sua vasta história no mundo ao empossar neste recanto do maranhão e do Brasil, mas particularmente na Diocese de Brejo seu terceiro bispo diocesano, o maranhense, coroataense, Dom Valdecir Mendes.

Meus irmãos há apenas oito dias na cidade de Arari pela imposição das mãos de Dom Reinaldo Punder, bispo diocesano de Coroatá, de Dom Valter, então, bispo administrador de Brejo, de Dom Xavier, bispo administrador de Viana e de mais bispos ali presentes Dom Valdecir até então Monsenhor Valdecir, foi ordenado Bispo com o encargo pastoral para com a Igreja particular que lhe foi confiada, a Igreja de Brejo. “Assim foi conferido a Dom Valdecir o ápice do ministério sagrado, a plenitude do sacramento da Ordem, conforme ensina O Concílio Vaticano II lembrado no nº. 1557 do Catecismo da Igreja Católica”.

No que diz respeito à realidade geográfica, sócio - política, econômica e religiosa da nossa diocese, não deve ser algo estranho para Dom Valdecir haja vista que tal realidade em alguns aspectos pouco difere da realidade das demais dioceses deste Maranhão, principalmente no que concerne ao social, ao político e ao econômico. Neste sentido o que discorrerei agora servirá apenas como confirmação ou lembrança do que já estamos cansados de saber.

Dom Valdecir a Diocese de Brejo está localizada na região do Baixo Parnaíba que abrange os municípios de Magalhães de Almeida, São Bernardo, Tutóia, Santa Quitéria, Brejo, Santana do Maranhão, Paulino Neves, Água Doce, Araioses, Milagres do Maranhão, Barrerinhas, Urbano Santos, Belágua, São Benedito do Rio Preto, Chapadinha, Anapurus, Mata Roma, Buriti, Duque Bacelar, Coelho Neto e Afonso Cunha.

Os municípios da região do Baixo Parnaíba estão classificados como os mais pobres do Estado, com índice muito baixo de desenvolvimento humano (IDH), com taxa de analfabetismo entre as mais altas do país, com alto índice de desmatamento em função do agro negócio da soja, eucalipto e da cana-de-açúcar, deixando a região como a mais pobre do Maranhão. Trata-se de um novo latifúndio, novo, aliás, só na aparência, porque na verdade é a continuação daquele iniciado lá em 1500 a 1800, e que agora se enfeita melhor, camufla melhor, mascara melhor, mas mantêm as mesmas velhas práticas e os mesmos velhos costumes que são: apropriar-se de grande faixa de terras, expulsar trabalhadores de suas terras, arrebentar o meio ambiente e construir documentos frios em cartórios da própria região. Uma aquisição desonesta e desleal.

No que diz respeito ao aspecto político o coronelismo ainda é muito forte, o analfabetismo e a pobreza são uma correnteza que leva à compra e venda de voto, um ato claro de corrupção conforme a Lei 9.840, lei neste instante até certo ponto enfraquecida, quando meios espúrios continuam sendo usados e valendo, pois o que importa é a permanência no poder. E o pior, com a conivência ou a omissão de parte do Ministério público e do Poder judiciário.

No que diz respeito ao aspecto religioso, e observando o contexto do momento nos vários aspectos mostrados, creio que a Igreja de Brejo tem condição de ser um sinal de esperança para tantos homens e mulheres, moças e rapazes, negros e índios, crianças e jovens que buscam um lugar ao sol. Um sol que para despontar, que para raiar na vida desse povo dependerá da posição que vamos tomar frente a realidade que se apresenta.

No deserto na hora do cansaço e da sede, Moisés tomou de uma vara e ao bater na rocha fez a água jorrar. Os problemas que o Baixo Parnaíba enfrenta hoje, se desenham como uma grande rocha, uma grande pedra, que se agigantam na frente do povo dificultando suas vidas, necessitando, portanto, de novos Moisés que não tenham medo de atingi-las, de abri-las, de desferi-las não com qualquer vara, mas principalmente com a vara da palavra, com a vara do Evangelho, com a organização das comunidades e com a própria Eucaristia, para que essa realidade, no que compreende agentes e instituições, empresas e empresários se convertam em humanidade e sensibilidade e a água que neste instante tem saciado apenas um grupo e tem faltado para o outro, possa saciar e descansar a todos. Dessa maneira a solidariedade pelos pequenos e pobres não será um acontecimento que estanca nas lutas e nas reivindicações, mas, muito mais que isso, essa solidariedade será sim um ato, uma celebração, uma liturgia através da qual a consciência política e social ali adquirida, será também um ato de conversão e de espírito cristãos também ali adquiridos.

Na vossa chegada à Diocese, a mesma acaba de aprovar e publicar as diretrizes para os sacramentos. Eles são de suma importância para a organicidade da nossa pastoral principalmente no que tange aos sacramentos, e o exercício das mesmas constitui o primeiro grande passo para a nossa unidade, para a nossa pastoral de conjunto, um desafio que precisa ser atacado, que precisa ser superado.

A forma de proposição de outras denominações religiosas tem feito o cristianismo e muitos cristãos mancos, enfraquecidos, confusos. E as diretrizes diocesanas existem também no sentido de depurar, de purificar e de refinar esse cristianismo às vezes tão cheio de vícios, de dengos e de manias até mesmo dentre muitos dos nossos católicos. No entanto, as mesmas não podem ser uma mão de força que não levam em consideração a pessoa, seu contexto, sua história e sua vida. Observemos cada caso, e nos casos em que a lei só declarar o pecado da pessoa, mas não oferecer condições para recuperar a mesma, façamos uso da misericórdia, quem sabe, através dela essa pessoa possa ser buscada, acolhida, recuperada e nossa Igreja acaba de demonstrar um largo sinal de sensibilidade e humanidade.

Dom Valdecir, como apresentei acima, somos 16 paróquias e vinte um municípios, com eles nós formamos a Igreja de Brejo que ora V. Excia. assume como pastor. Uma diocese com a dimensão da nossa e com os problemas que acabamos de colocar não deixa de ser um grande desafio quanto a sua administração e sua pastoral. Sabendo disso é que neste instante em nome do nosso clero, asseguro-o do nosso apoio e colaboração no sentido de caminharmos juntos na busca de uma diocese onde seu povo, suas ovelhas se sentirão cada vez mais acolhidas e amadas, não precisando ir a outros campos ou a outras montanhas, porque aqui neste monte, tem o pasto que elas procuram e merecem depois de um dia de fadiga e cansaço: nosso amor, nossa caridade, nossa misericórdia e nossa compreensão."


Um comentário:

  1. Saúdo e parabenizo ao novo bispo da Diocese de Brejo dos Anapurus-Maranhão, Dom Valdeci. Elevo a Deus minhas orações em sufrágio desse novo pastor, desejando ao mesmo, paz, saúde e dedicação fraternal ao rebanho que Cristo lhe confiou.
    Saúdo e parabenizo ao Pe. Isaque pelo seu belíssimo, inteligente e autêntico discurso de acolhida dirigido a pessoa de Dom Valdeci.
    Fico feliz com a chegada de Dom Valdeci para pastorear a diocese de Brejo, diocese esta da qual estive inserido como seminarista do curso de filosofia. Fui colega de classe no curso filosófico do Pe. Isaque, residindo no Seminário Interdiocesano Santo Antônio,em São Luis,Maranhão. Naquela época o reitor era o Pe. Xavier e o vice-reitor,Pe. Bráulio.
    Fui bem acolhido pelo bispo de Brejo Dom Válter Carrijo, seus sacerdotes e seminaristas. Guardo comigo grandes recordações desta boa e hospitaleira diocese de Brejo.
    Sou muito grato aos professores do CETEMA, de maneira particular o saudoso Padre Dr. João Mohana, meu professor e diretor espiritual.
    Sou muito grato também aos reitores do Seminário Santo Antônio e aos religiosos e religiosas de São Luis. Não posso deixar de agradecer ao Dr. Jorge Miécio, médico oftalmologista, e a Ir. Letícia Pilecco, religiosa paulina; essas duas pessoas foram boníssimas para comigo.
    A todos as pessoas amigas de São Luis,Maranhão, a minha gratidão e preces.
    Atualmente, estou residindo na cidade de Aracoiaba,minha terra natal. Colaboro com a paróquia da Imaculada Conceição em Aracoiaba, como Ministro da Eucaristia e como Zelador do Apostolado da Oração. Um abraço para todos da Diocese de Brejo e aos irmãos e irmãs do nosso estado do Maranhão.
    Meu blog: lusmarpazleite.blogspot.com
    E-mail: lusmarpazleite2@hotmail.com

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